Autores(as): Hállyfe Rodrigues, Fernando Soares, Ana Flávia Macedo e Leonardo Cunha
Introdução e epidemiologia
O Mycobacterium leprae o agente causador da Hanseníase é um bacilo álcool-ácido resistente com predileção pela célula de Schwann e pele. Não pode ser cultivado, mas existem modelos animais utilizados no seu estudo e reprodução, como o tatu e camundongos timectomizados e irradiados.
Considera-se o homem como o único reservatório natural do bacilo, apesar do relato de animais selvagens naturalmente infectados (tatus e macacos). Os pacientes portadores de formas multibacilares são considerados a principal fonte de infecção.
Admite-se que as vias aéreas superiores constituem a principal porta de entrada e via de eliminação do bacilo. A pele erodida, eventualmente, pode ser porta de entrada da infecção. As secreções orgânicas como leite, esperma, suor, e secreção vaginal, podem eliminar bacilos, mas não possuem importância na disseminação da infecção.
A prevalência tem declinado no mundo e a meta de eliminação vem sendo alcançada em vários países. O número de casos novos registrados no ano tem se mantido estável, mostrando que muitos casos novos irão surgir nos próximos anos. No mundo existiam 597.232 casos registrados, e foram diagnosticados quase um milhão de casos novos. O Brasil detém o segundo lugar no mundo, em número absoluto de casos e índice de detecção considerado muito alto.
No Distrito Federal, no período entre os anos 2000 a 2005 foi observado que a forma clínica de hanseníase predominante foi a tuberculóide, representando 28% do total de casos. No acometimento levando em consideração o sexo predominou o masculino com 54,2% dos casos novos no período entre 2000 a 2005. No sexo masculino prevaleceu a forma virchowiana já no sexo feminino predominou a forma tuberculóide correspondendo à 33,5% dos casos novos do gênero
A faixa etária com maior incidência de casos foi a compreendida entre 20 a 39 anos. A forma virchoviana prevaleceu na população com mais de 40 anos.
Quadro Clínico
A primeira manifestação da doença, após um período de incubação que varia entre três e cinco anos, consiste no aparecimento de manchas dormentes, de cor avermelhada ou esbranquiçada, em qualquer região do corpo, ausência de sensibilidade ao calor, ao frio, à dor e ao tato. Outros sintomas podem ser: placas, caroços e inchaço (na face, orelhas, cotovelos e mãos), fraqueza muscular e dor nas articulações. Os sintomas podem evoluir, o número de manchas ou o tamanho das já existentes aumentam e os nervos ficam comprometidos, podendo causar deformações em regiões, como nariz (entupimento constante do nariz, com um pouco de sangue e feridas) e dedos, e impedir determinados movimentos, como abrir e fechar as mãos.
Diagnóstico
O diagnóstico da hanseníase é basicamente clínico, baseado nas queixas, sinais e sintomas detectados no exame de toda a pele, olhos, palpação dos nervos, avaliação da sensibilidade superficial e da força muscular dos membros superiores e inferiores. Em raros casos será necessário solicitar exames complementares para confirmação diagnóstica. Dentre os exames mais solicitados para confirmação diagnóstica está a pesquisa do bacilo de Hansen na linfa. Trata-se de um exame onde se extrai um líquido (linfa) das orelhas, cotovelos ou joelhos após pressioná-los com uma pinça especial. A linfa então é mandada para o laboratório para análise e pesquisa do bacilo de Hansen. Existem outros métodos de diagnóstico em casos mais difíceis, como a biópsia de um nervo periférico (acometido pela doença) que é submetido para análise microscópica.
Tratamento
O tratamento consiste em uso de quimioterápicos e acompanhamento do paciente para evitar seqüelas físicas e minimizar as complicações. Orienta-se o uso de rifampicina e dapsona associados par a forma paucibacilar, e a adição de clofazimina a esse esquema para a forma multibacilar. Existem outras formas de tratamento levando em consideração a lesão, a duração que seria dada ao tratamento e os efeitos colaterais associados a idade do paciente inclusive em crianças em que a terapia quimioterápica deve ser muito cautelosa. Porém a discussão dessas formas de tratamento bem como uma abordagem mais aprofundada sobre toda a patologia deve ser realizada em um estudo mais amplo e que busca diversas perspectivas para uma ampla variedade de estudiosos da área.
Referências
1- “http://bvsms.saude.gov.br/html/pt/dicas/61hanseniase.html” Acesso em 14 de novembro de 2010
2- “http://www.santalucia.com.br/dermatologia/hanse.htm” Acesso em 14 de novembro de 2010
3- “http://www.dermatologia.net/novo/base/doencas/hanseniase.shtml” Acesso em 14 de novembro de 2010
4- Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical; “Hanseníase no Brasil”; Marcelo Grossi Araújo, Serviço de Dermatologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG
5- LIMA, M.A.R.; PRATA MO.;Revista Comunicação Ciências Saúde. 2008;19(2):163-170
6- Ministério da Saúde, Guia para o controle da Hanseníase, Brasília 2002, 30-35.
7 comentários:
Li o texto do grupo e só pra complementar encontrei um artigo sobre a hanseníase que não fala de transmissão, diagnostico, manifestações ou tratamento. Ele fala sobre as representações sociais da hanseníase do ponto de vista dos pacientes. Ao meu ver, assim como na AIDS, o tratamento da doença também deveria englobar a parte psicológica do paciente, tendo em vista que ambas doenças despertam grande preconceito social muitas das vezes acompanhada por uma tremenda falta de informação por parte das pessoas. A hanseníase é uma doença de evolução prolongada com grande potencial incapacitante e atinge principalmente pessoas com um nível sócio-econômico mais baixo. No ponto de vista da medicina, a hanseníase é uma doença que conta com tratamento e cura, sob o ponto de vista cultural, ela reflete símbolos negativamente carregados num número considerável de sociedades, inclusive na nossa. Por suas características próprias, a hanseníase, exige um contato prolongado com o paciente e um vínculo tipo médico de família no qual a vida do paciente e de sua família deve ser acompanhada num sentido muito amplo. O doente enfrenta diversos problemas relacionados ao tratamento, incluindo a situação de pobreza, a carência cultural, desagregação familiar, desemprego e problemas relacionados à auto-estima (psicológico).
Leandro Paulinelli Seba
O Brasil continua sendo o segundo país em número de casos no mundo, após a Índia. Aproximadamente 94% dos casos conhecidos nas Américas e 94% dos novos diagnosticados são notificados pelo Brasil. A baciloscopia é o exame complementar mais útil no diagnóstico. O tratamento da hanseníase compreende: quimioterapia específica, supressão dos surtos reacionais, prevenção de incapacidades físicas, reabilitação física e psicossocial. A poliquimioterapia com rifampicina, dapsona e clofazimina revelou-se muito eficaz e a perspectiva de controle da doença no Brasil é real no curto prazo.
Tipos clínicos
A maioria das pessoas que tiveram exposição significativa a M. leprae não adoece. No entanto, freqüentemente desenvolvem anticorpos séricos e resposta imunocelular a M. leprae. Naqueles que desenvolvem doença, as manifestações clínicas e a gravidade variam amplamente.
Hanseníase tuberculóide é um dos pólos do espectro. Estes pacientes apresentam uma ou poucas máculas hipopigmentadas, hipoestéticas com bordas bem definidas, poucos ou nenhum microrganismo M. leprae e linfócitos circulantes que reconhecem M. leprae. As erupções cutâneas, como em todas as formas de hanseníase, não são pruriginosas. Os nervos periféricos podem ser lesados e aumentados, geralmente assimétricos e freqüentemente contíguos a lesões cutâneas.
Hanseníase lepromatosa é o outro pólo do espectro. Estes pacientes apresentam nódulos cutâneos simétricos ou placas carregadas de M. leprae e freqüentemente apresentam neuropatia periférica distal; não apresentam imunidade contra M. leprae. Eles podem perder os cílios e sobrancelhas. No oeste do México e outros locais da América Latina, particularmente, os pacientes podem apresentar infiltrado dérmico difuso, com perda dos pêlos do corpo e outros anexos, mas sem nódulos cutâneos visíveis, uma condição denominada lepromatose difusa ou lepra bonita. Pacientes lepromatosos podem desenvolver eritema nodoso leproso (ENL), e aqueles com lepromatose difusa podem desenvolver o fenômeno de Lucio, uma reação grave associada com ulcerações (particularmente das pernas), que freqüentemente se tornam infectadas secundariamente, resultando em bacteremia e morte.
Hanseníase limítrofe é a que está no meio do espectro. Este tipo de hanseníase é instável e pode evoluir assemelhando-se à hanseníase lepromatosa ou sofrer uma reação de reversão e assemelharse à forma tuberculóide.
A Hanseníase, também conhecida como Lepra, é uma doença descrita desde os tempos bíblicos até hoje. Além do preconceito com as pessoas portadoras da doença, que tinham lesões ulcerantes na pele e deformidades nas extremidades, ela também significou, por muito tempo, exclusão do convívio social dos portadores, uma vez que esse era o único tratamento para doença até meados do século 20. No século 20 o isolamento dos doentes passou a ser contestado devido ao avanço dos medicamentos quimioterápicos e da descoberta de que o isolamento não diminuía o número de casos da doença. Até a década de 40, a doença era tratada com óleo de chaulmoogra, medicamento fitoterápico natural da Índia, administrado por via parenteral ou oral. Atualmente a Hanseníase é uma doença tratável. O tratamento pode ser feito nas unidades de saúde e é gratuito. Quanto mais precoce for o diagnóstico, mais fácil será a cura. O tratamento é feito pela associação por via oral de dois ou três fármacos: rifampicina, clofazimina e dapsona. Para facilitar o tratamento, os pacientes são classificados em dois grupos: paucibacilares (doentes que não contaminam outras pessoas) e multibacilares, que podem infectar outras pessoas. Para os paucibacilares o tratamento é feito por seis meses, com uma dose mensal de rifampicina (600mg) e dapsona (100mg) na unidade de saúde e o restante é auto-administrado, com um comprimido de dapsona por dia, até a próxima dose na unidade de saúde. Os indivíduos classificados como multibacilares devem ter a dose aplicada na unidade de saúde de 600 mg de rifampicina, 300 mg de clofazimina e 100 mg de dapsona, o restante deve ser auto-administrado diariamente com 100 mg de clofazimina e 100 de dapsona. O tratamento deve ser feito por 12 meses.
A Hanseníase é uma doença infecciosa que afeta os nervos e a pele. Ela é endêmica em países tropicais. Transmitida por gotículas de saliva, o bacilo Mycobacterium leprae é eliminado pelo aparelho respiratório na forma de aerossol. A incubação é longa (2 a 20 anos) explicando a maior incidência em indivíduos adultos, apesar de não excluir indivíduos mais jovens.
Um dos primeiros sintomas é a supressão da sensação térmica devido ao acometimento dos nervos. Mais tardiamente há a supressão da sensação dolorosa da região. A partir do seu estado inicial, a lepra pode permanecer estável ou evoluir para uma das duas formas: tuberculóide – ocorre em pacientes que têm boa resposta imunológica ao bacilo. A virchowiana – em que os pacientes apresentam resposta imunológica ineficiente contra o bacilo. Na hanseníase virchowiana encontra-se uma fácies característica, a leonina, na qual se observa lesões cutâneas chamadas de hansenomas (nódulos infiltrados).
O Brasil é o segundo país com maior número de casos de Hanseníase.
Só para complementar, algo sobre as políticas de saúde para controle da Hanseníase.
O controle da hanseníase é baseado no diagnóstico precoce de casos, seu tratamento e cura, visando eliminar fontes de infecção e evitar seqüelas. A detecção de casos novos de hanseníase em menores de 15 anos foi adotada como principal indicador de monitoramento da endemia, com meta de redução estabelecida em 10%, até 2011 e está inserida no Programa Mais Saúde: Direitos de Todos – 2008-2011 / Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
O Programa Nacional de Controle da Hanseníase (PNCH) estabeleceu diretrizes operacionais para a execução de diferentes ações, articuladas e integradas, que pudessem em todas as frentes de trabalho propiciar às pessoas que adoecem sejam atendidas nas suas necessidades e direitos. Sem perder de vista o desafio da horizontalização e da descentralização, organizou-se as ações do PNCH, a partir de cinco componentes/áreas: vigilância epidemiológica; gestão; atenção integral; comunicação e educação e pesquisa.
Metas pactuadas pelo PNCH para 2008-2011
-Reduzir em 10% o coeficiente de detecção de casos novos de hanseníase em menores de 15 anos, no país, até 2011
-Aumentar de 38% para 50% a cobertura de UBS com o programa implantado em 2008
-Curar 90% dos casos de hanseníase diagnosticados nos anos das coortes (MB e PB)
-Examinar pelo menos 50% dos contados domiciliares dos casos novos diagnosticados em 2008
-Avaliar o grau de incapacidade em 75% dos casos novos no diagnóstico
-Avaliar o grau de incapacidade em 50% dos casos novos na cura
Helena Araújo Lapa
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