Médico infeciologista. Mestre e Doutor em Medicina Tropical. Autor do Livro Lições de Epidemiologia
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sábado, dezembro 27, 2014
Raiva - uma doença sob vigilância.
No último número da RMSBr (link), publiquei um artigo com meus alunos da disciplina de vigilância em saúde da UnB. O artigo é intitulado Análise dos acidentes por animais com potencial de transmissão para raiva no município de Caçapava do Sul, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil.
Segue o resumo:
Os animais podem estar relacionados à transmissão de diversas zoonoses, sendo a
raiva a de maior importância epidemiológica, por apresentar cerca de 100% de letalidade. Objetivo:
Descrever o perfil dos acidentes por animais com potencial de transmissão para raiva no município
de Caçapava do Sul. Métodos: Os dados foram coletados do Sistema Nacional de Agravos de
Notificação, no período de 2007 a 2013. Resultados: Na série histórica analisada, foram notificados
785 acidentes por animais com potencial de transmissão para raiva. O estudo demonstrou que a
espécie animal agressora predominante foi a canina, com 87% dos casos notificados, seguida de
felina com 12%. Verificou-se que em 83,31% dos casos a zona de residência foi a urbana. Os tipos
de acidentes mais presentes foram as mordeduras 93,63% seguido de lambeduras (4,84%), e a
região do corpo mais acometida foram os membros inferiores 43,05%. Quanto ao perfil dos
acidentados, 50,9% dos atendidos foram do sexo masculino e a faixa etária predominante entre os
pacientes foi a de 05 a 14 anos. A observação do animal por um período de 10 dias foi a conduta
preponderante e ocorreu em 79,49% dos atendimentos. Conclusão: Os acidentes com potencial de
transmissão da doença não podem ser ignorados pelo poder público, pois podem refletir diversos
problemas relacionados à saúde da população. Atividades educativas podem ter um papel
importante nesse contexto para influenciar uma conduta responsável no convívio da população com
os animais.
Um dos aspectos importantes a serem levantados é sobre a vigilância da raiva, o Brasil segue os mesmos protocolos há mais de 40 anos. Apesar de ser uma doença de elevada letalidade (100 %), os casos no Brasil são raros. O custo da manutenção de um sistema de vigilância dever ser avaliado periodicamente. As decisões deveriam atender as necessidades de forma regional, se o agravo não for importante em determinada região, a vigilância específica deveria ser descontinuada. O Brasil ainda adota uma lista nacional, podendo haver desperdício de recursos para vigilância de doenças sem importância. São questões para reflexão.
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