Médico infeciologista. Mestre e Doutor em Medicina Tropical. Autor do Livro Lições de Epidemiologia
Mostrar mensagens com a etiqueta Zika Virus. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Zika Virus. Mostrar todas as mensagens
segunda-feira, julho 29, 2019
Orientações sobre a transmissão sexual do Zika - Zika Sexual Transmission Guidelines
O zika é uma doença viral transmitida por mosquito (arbovirose). Em 2018 havia cerca de 86 países e territórios com transmissão activa da doença e a notificação de mais de 500 mil casos só na América Latina. Clinicamente é uma doença benigina e autolimitada se manifestando com febre, exantema e conjuntivite. Na maior parte dos casos não há acometimento do estado geral e o doente pode executar as suas tarafas cotidianas sem muitas dificuldades. O problema do zika reside na sua associação à Síndrome de Guillain Barré (quadro neurológico que cursa com paralisia flácida progressiva) e a ocorrência de transmissão congênita causadora de malformações graves (a manifestação mais conhecida é a microcefalia). A proporção de crianças acometidas por estas malformações pode ocorrer em 6 % das mulheres grávidas sem exantema, e até 42 % das mulheres que desenvolvem exantema.
O impacto da transmissão sexual do zika para a saúde pública em zonas endêmicas é desconhecido, tendo em vista a predominância da transmissão vetorial. No entanto, para viajantes que retornam de áreas endêmicas, é um problema a ser considerado. Nos EUA , até 2018, foram detectados cerca de 57( total de 5300 casos ) como de provável transmissão sexual e, na Europa, cerca de 20 ( total de 1700 casos). A transmissão é mais fácil do homem para mulher. Entre homens que têm sexo com homens foi notificado um caso.
A OMS lançou orientações atualizadas sobre medidas para se evitar a transmissão sexual do zika em viajantes que se destinam a áreas com transmissão:
1)Orientação sobre medidas de anticoncepção para viajantes (inclusive reforço sobre informações sobre a transmissão sexual e ocorrência de malformações congênitas).
2)Reforço de prática de sexo seguro ou abstinência após retorno - 6 a 3 meses para homens e 2 meses para mulheres.
3)Homens que retornam de países endêmicos que tenham realações sexuais com parceiras grávidas devem utilizar preservativo ou evitar relações sexuais durante toda a gravidez (não há idade gestacional em que a transmissão não possa ocorrer).
4)Mulheres que desejam engravidar durante viagens para zonas endêmicas devem ser desencorajadas, de acordo com a situação epidemiológica local.
5)Mulheres grávidas devem evitar viajar para zonas endêmicas.
A recomendação geral é sempre praticar sexo seguro, considerando-se as outras infecções de transmissão sexual.
Resumo: Mulheres em idade fértil -- evitar gravidez (em caso de viagem ou parceiro que retorna). Mulheres grávidas -- evitar viagem. Sempre praticar sexo seguro! OBS. Mulheres podem transmitir o zika sexualmente até 2 meses e homens de 3 a 6 meses.
Consulte um especialista em Medicina do Viajante !!!
Fonte: OMS
English:
Zika is a mosquito-borne viral disease (arbovirus). In 2018 there were about 86 countries and territories with active transmission of the disease and over 500 million cases reported in Latin America alone. Clinically it is a benign and self-limiting disease manifesting with fever, rash, and conjunctivitis. In most cases there is no impairment of the general condition and the patient can perform his daily tasks without any difficulties. The problem with Zika lies in its association with Guillain Barré Syndrome (a neurological condition that progresses with progressive flaccid paralysis) and the occurrence of congenital transmission causing severe malformations (the most known manifestation is microcephaly). The occurrence of these malformations is still a matter of study but can occur from 6% in pregnant women without rash to 42% of women who develop a rash.
The impact of sexual transmission of zika on public health in endemic areas is unknown, given the predominance of vector transmission. However, for travelers returning from endemic areas, this is a problem to consider. In the US, by 2018, around 57 (5300 cases in total) were detected as likely to be sexually transmitted, and in Europe, around 20 (1700 cases in total). Transmission is easier from man to woman. Among men who have sex with men, a case has been reported.
WHO has released up-to-date guidance on measures to prevent Zika sexual transmission in travelers going to areas with transmission:
1) Guidance on contraceptive measures for travelers (including reinforcement of information on sexual transmission and occurrence of congenital malformations).
2) Reinforcement of safe sex or abstinence after return - 6 to 3 months for men and 2 months for women.
3) Men returning from endemic countries who have sexual intercourse with pregnant partners should use a condom or avoid sexual intercourse throughout pregnancy (there is no gestational age at which transmission cannot occur).
4) Women who wish to become pregnant while traveling to endemic areas should be discouraged according to the local epidemiological situation.
5) Pregnant women should avoid traveling to endemic areas.
The general recommendation is always to practice safe sex, considering other sexually transmitted infections.
Summary: Women of childbearing age - avoid pregnancy (if traveling or having sex with a returning partner). Pregnant women - avoid travel. Always practice safe sex! NOTE Women can transmit Zika sexually for up to 2 months and men for 3 to 6 months.
Source: WHO
sábado, maio 14, 2016
Transmissão transfusional do Zika
Zika vírus é um flavivírus descoberto pela primeira vez em 1947. O risco de transmissão transfusional por outros vírus da mesma família é conhecido, principalmente para o dengue e West Nile virus. A transmissão transfusional pelo Zika foi documentada pela primeira vez no Brasil em 2015. Em áreas com transmissão do vírus deve-se estabelecer estratégias no sistema de sangue e hemoderivados de forma a manter os estoques disponíveis para as necessidades dos serviços de saúde.
Medidas recomendadas para se evitar a transmissão transfusional:
1)Em zonas não endêmicas deve-se recomendar que se evite a doação de sangue por período de 14 dias após retorno de área de transmissão e após 28 dias após resolução dos sintomas em pessoas com doenças documentada (mesmo para dengue). No caso de indivíduos que tiveram Zika é também recomendada a aplicação de medidas de inativação viral no sangue doado.
2)Implementação de testagem dos doadores com testes de biologia molecular, esta estratégia encarece o processamento dos hemoderivados e também necessita de equipamentos e técnicos para sua realização, no entanto mostrou-se eficaz durante a epidemia na Polinésia Francesa.
3)Inativação do vírus nos hemoderivados por meio de tratamento com Amatosalen e iluminação com raios UV. Esta estratégia mostrou-se eficaz contra o ZIKV e também contra outros arbovírus.
4)Gestantes só devem receber hemoderivados comprovadamente negativos para ZIKV.
sábado, junho 27, 2015
Zika vírus no Brasil - qual situação atual?
Mapa do Promed com os casos de Zika no Brasil no último mês.
O ZIKV foi descoberto na década de 40 em uma floresta de Uganda, chamada Zika. O isolamento do vírus se deu de forma inesperada, pois estava-se fazendo pesquisas para a febre amarela com macacos sentinela presos nas copas das árvores. Desde então a doença disseminou-se pela África e pela Ásia. Em 2007 foi detectado um grande surto nas Ilhas do Oceano Pacífico. Neste ano isolou-se a doença no Brasil.
De acordo com fontes informais, só na Bahia já foram detectados mais de 20.000 casos suspeitos em mais de 160 municípios. Felizmente a doença é benigna, mas pode atrapalhar o diagnóstico com a dengue e tem sido associada ao aumento de casos de Síndrome de Guillain Barré. Outro problema também é na dificuldade de diagnóstico, ainda não há um kit comercial disponível.
Os casos que tenho notícia se caracterizam por febre baixa, prostração que evoluiu para exantema maculopapular em face que progride para o resto do corpo, inclusive palmas e solas. Duas características importantes é que o exantema é pruriginoso e a presença de conjuntivite intensa e sem pus.
domingo, junho 07, 2015
Breve Revisão acerca da doença por Zika Virus
Distribuição do Zika vírus .
O Zika Virus é um flavivírus relacionado à Febre Amarela e o Dengue e transmitido por vetores artrópodes (arbovirose). Foi isolado pela primeira vez na Uganda, na floresta de Zika em 1947. É endêmica no leste e oste da África já tendo sio detectado em surtos no Sudeste Asiático, Micronésia e Oceania. Foi reportado pela primeira vez nas Américas em 2014 na Ilha de Páscoa (território Chileno no Oceano Pacífico) provavelmente relacionado ao surto na Micronésia. Em 2015, casos foram confirmados na Região Sudeste e Nordeste do Brasil.O vírus é transmitido por mosquitos do gênero Aedes sp. Até o momento não foram descritos reservatórios animais do vírus. Clinicamente é caracterizada por febre de inicio agudo acompanhada de cefaleia discreta, no segundo dia da doença surge exantema maculopapular acometendo face, troncos, membros, palmas e solas. A febre cede um dia ou dois após o aparecimento do exantema, que persiste por mais alguns dias. São relatadas dores articulares discretas e dor lombar. Outras manifestações inespecíficas como anorexia, náuseas e vômitos podem ocorrer.É relatado também em alguns casos conjuntivite.
O diagnóstico diferencial se faz principalmente com dengue, chikungunya e outras doenças febris agudas como malária, leptospirose. Deve-se pensar também em doenças como artrite reativa e farmacodermia.
O diagnóstico pode ser realizado por meio de PCR até 11 dias de evolução da doença. Anticorpos IgM podem ser detectados a partir do terceiro dia de doença. Anticorpos IgG devem ser investigados no soro agudo e convalescente (sorologia pareada).
Não existe vacina e nem drogas antivirais específicas, o tratamento é sintomático com analgésicos e antitérmicos. Deve-se evitar o uso de aspirina (salicilatos), nomeadamente em territórios com circulação concomitante do vírus da dengue pela possibilidade de agravar o quadro em pacientes com essa doença. Até o momento não foi relatado nenhum óbito pela doença.
Medidas de Saúde Pública devem visar medidas contra o vetor, tanto coletivas quanto individuais. Nos locais em que o vírus ainda não esteja totalmente estabelecido, deve-se isolar os indivíduos infectados e evitar que eles tenham contacto com o vetor.
Ainda são desconhecidos vários aspectos da epidemiologia do Zika virus. Novos estudos com intuito de se investigar a dinâmica de transmissão da vírus poderão auxiliar na definição de fatores que possam contribuir para a formação de endemia nas regiões recentemente acometidas. Até lá, as medidas de controle vetorial devem ser intensificadas e muito cuidado deve-se ter em relação ao manejo do paciente, nomeadamente para se evitar o aumento dos casos de óbitos ocasionados pela dengue em decorrência de diagnósticos equivocados.
quinta-feira, abril 30, 2015
O Zika passou o CHIK
Figura - Distribuição do ZIKA no Mundo.
Todos esperávamos uma grande epidemia de CHIK no Brasil este ano, mas outra arbovirose está a se disseminar de forma rápida, nomeadamente no nordeste do Brasil. Trata-se da Febre do Zika, uma arbovirose transmitida pelo Aedes sp. e que é originária da África e da Ásia. Pesquisadores de uma Universidade da Bahia isolaram o vírus de casos de uma doença exantemática que se espalhou por Salvador e Região Metropolitana e que também vem a ser relatada em outros estados circunvizinhos. Acredita-se que o vírus tenha entrado no Brasil durante o mundial de futebol ocorrido em 2014.
Trata-se de um flavivírus que causa doença benigna caracterizada por inicio agudo de febre, exantema maculopapular (geralmente inicia-se na face e se dissemina pelo restante do corpo) e artralgia nomeadamente nas pequenas articulações do membro superior. Conjuntivite também é relatada. Os sinais e sintomas são leves e moderados de evolução auto limitada de cerca de 2 a 7 dias. O diagnóstico pode ser feito por meio de sorologia (IgM positiva - pode haver reação cruzada com outros flavivírus) e RT - PCR. Não há tratamento específico, sendo recomendados os analgésicos. Como no Brasil há possibilidade de dengue, evitar a aspirina e os anti-inflamatórios não esteroidais.
O diagnóstico diferencial é amplo considerando-se os agentes que circulam no país, inclusive a doença estava a ser confundida com a doença exantemática causada por parvovírus B19. Felizmente essa doença não se mostrou complicada, apesar de haver poucos casos envolvendo gestantes e recém-nascidos.
A prevenção reside nas velhas orientações de se evitar contato com mosquitos, crianças muito pequenas não podem usar repelente, portanto o cuidado com o domicilio é essencial. Ainda há que se aguardar o término das investigações epidemiológicas para poder ser afirmar que há de fato uma epidemia da doença no Brasil.
Todos esperávamos uma grande epidemia de CHIK no Brasil este ano, mas outra arbovirose está a se disseminar de forma rápida, nomeadamente no nordeste do Brasil. Trata-se da Febre do Zika, uma arbovirose transmitida pelo Aedes sp. e que é originária da África e da Ásia. Pesquisadores de uma Universidade da Bahia isolaram o vírus de casos de uma doença exantemática que se espalhou por Salvador e Região Metropolitana e que também vem a ser relatada em outros estados circunvizinhos. Acredita-se que o vírus tenha entrado no Brasil durante o mundial de futebol ocorrido em 2014.
Trata-se de um flavivírus que causa doença benigna caracterizada por inicio agudo de febre, exantema maculopapular (geralmente inicia-se na face e se dissemina pelo restante do corpo) e artralgia nomeadamente nas pequenas articulações do membro superior. Conjuntivite também é relatada. Os sinais e sintomas são leves e moderados de evolução auto limitada de cerca de 2 a 7 dias. O diagnóstico pode ser feito por meio de sorologia (IgM positiva - pode haver reação cruzada com outros flavivírus) e RT - PCR. Não há tratamento específico, sendo recomendados os analgésicos. Como no Brasil há possibilidade de dengue, evitar a aspirina e os anti-inflamatórios não esteroidais.
O diagnóstico diferencial é amplo considerando-se os agentes que circulam no país, inclusive a doença estava a ser confundida com a doença exantemática causada por parvovírus B19. Felizmente essa doença não se mostrou complicada, apesar de haver poucos casos envolvendo gestantes e recém-nascidos.
A prevenção reside nas velhas orientações de se evitar contato com mosquitos, crianças muito pequenas não podem usar repelente, portanto o cuidado com o domicilio é essencial. Ainda há que se aguardar o término das investigações epidemiológicas para poder ser afirmar que há de fato uma epidemia da doença no Brasil.
Subscrever:
Mensagens (Atom)
Origem da Quarentena - Quarantine origin
Em meados do século XIV, autoridades sanitárias da Itália, sul da França e arredores, premidos pela epidemia de peste negra, criaram um sist...
-
Figura - Regiões das Américas com relato de ocorrência de casos humanos de Febre de Oropouche (fonte: CAD. SAÚDE COLET., RIO DE JANEIRO, ...
-
Autores(as): Alexandra Saliba, Camila Lima, Gabriela Manara e Filipe Bittencourt. Epidemiologia A AIDS foi identificada em 1981, nos...
-
Aula introdutória do curso básico de epidemiologia que pretendo postar no decorrer desse semestre. O objetivo será discutir os aspec...