Foi aprovado no fim de agosto mais uma combinação de antimicrobiano com inbidor de betalactamase, o Meropenem/Varbobactam (Vabomere). O seu uso foi liberado para adultos ( mariores que 18 anos) e com diganóstico de infecção do trato urinário complicadas (pielonefrite) causada por bactérias sensíveis.
A dose recomendada de Meropenem/Varbobactam é de 4 g (2g de meropenem + 2g varbobactam) de 8/8 h por 14 dias em doentes com função renal normal. A apresentação é em pó para reconstituição contendo 1g/1g total 2g. Doentes com disfunção renal devem ter a dose ajustada de acordo com a TFG.
Em ensaios clínicos, o Meropenem/Varbobactam mostrou-se seguro para uso clínico, apresentando mais frequentemente como cefeitos colaterais: cefaleia (8,8 %), reação no local de infusão (4,4%), diarreia (3,3%), aumento de transaminases (1,8%), hipocalemia (1,1 %). Possui interações medicamentosas com o valproato e probenecide. Não foi aprovado para uso em gestantes (possível efeito teratogênico) nem em crianças. Mais estudos e farmacovigilância são necessários.
O antimicrobiano mostrou efeito contra enterobactérias em presença de algumas betalactamases e ESBL. Não foi ativa contra bactérias que produzem metalobetalactamase e oxacilinases com ação de carbapenemase. O uso vai depender do perfil antimicrobiano da instituição. A associação com varbobactam recuperou a atividade do meropenem em bactérias resistentes.
Em primeira análise, este antimicrobiano ainda necessita de mais estudos e foi apro vado para uma única indicação. Ainda é cedo para avaliarmos a sua utilidade em bactérias MDR.
English version:
Another antimicrobial combination with beta-lactamase inhibitor, Meropenem / Varbobactam (Vabomere), was approved at the end of August. Its use has been released to adults (over the age of 18) and to the diagnosis of complicated urinary tract infection (pyelonephritis) caused by sensitive bacteria.
The recommended dose of Meropenem / Varbobactam is 4 g (2 g meropenem + 2 g varbobactam) 8/8 h for 14 days in patients with normal renal function. The presentation is powder for reconstitution containing 1g / 1g total 2g. Patients with renal impairment should have the dose adjusted according to GFR.
In clinical trials, Meropenem / Varbobactam was shown to be safe for clinical use, with headache (8.8%), infusion reaction (4.4%), diarrhea (3.3%), increased transaminases (1.8%), hypokalemia (1.1%). It has drug interactions with valproate and probenecid. It has not been approved for use in pregnant women (possible teratogenic effect) or in children. Further studies and pharmacovigilance are required.
The antimicrobial showed an effect against enterobacteria in the presence of some beta-lactamases and ESBL. It was not active against bacteria that produce metalobetalactamase and oxacillinases with the action of carbapenemase. The use will depend on the antimicrobial profile of the institution. The association with varbobactam recovered the activity of meropenem in resistant bacteria.
In the first analysis, this antimicrobial still needs more studies and was approved for a single indication. It is too early to assess its usefulness in MDR bacteria.
Médico infeciologista. Mestre e Doutor em Medicina Tropical. Autor do Livro Lições de Epidemiologia
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terça-feira, setembro 19, 2017
quarta-feira, setembro 23, 2015
KPC: um desafio para o controle
Figura - Distribuição da KPC e suas variantes no Mundo (2013 - Clinical epidemiology of the global expansion of Klebsiella pneumoniae carbapenemases, Price et al. Lancet)
A KPC (Klebsiella pneumoniae Carbapenemase) é uma beta lactamase capaz de hidrolisar a totalidade dos antibióticos beta lactâmicos, inclusive os carbapenemas e substâncias inibidoras da beta lactamase. O termo KPC gera confusão e é pouco preciso, já que esta enzima pode ser detectada em outras enterobactérias, como as do gênero Pseudomonas. Recentemente o CDC cunhou a denominação CPE ( Enterobactérias Produtoras de Carbapenemase), sendo, portanto, este termo mais preciso.
Surtos de infecção por K.pneumoniae KPC são descritos em diversos países e com padrão endêmico em alguns como os EUA e o Brasil. A proporção de bactérias KPCs isoladas em hospitais também vem crescendo, em 2011 era de 12 %, em 2012 65 % e em 2013 57 %. A letalidade também é maior em comparação com pacientes infectados por bactérias sensíveis, o excesso de letalidade chega a 20 %. A letalidade chega a 48 % dos pacientes diagnosticados com infecção da corrente circulatória.
Para o tratamento destas bactérias restam poucas opções, entre elas a colistina, gentamicina e tigeciclina. Usadas isoladamente ou em diferentes associações. Nenhuma destas opções é ideal. A colistina e a gentamicina são nefrotóxicas e sua combinação pode levar a quadros de insuficiência renal. A tigeciclina tem ação errática, portanto gera pouca confiança na sua utilização em pacientes graves. Para piorar já se detectam bactérias resistentes à colistina e o lançamento de novas drogas não acompanha a rapidez da geração de resistência. Recentemente foi lançado nos EUA a ceftazidima-avibactam, uma combinação que se mostra ativa contra a KPC, no entanto há relatos de rápida criação de resistência.
O controle ainda se dá pela identificação precoce da colonização (geralmente ocorre em até 4 8 h após a internação) e a separação dos pacientes detectados colonizados. Talvez seja este um dos maires problemas relacionados à assistência hospitalar, a falta de opções minimamente ideais e a gravidade dos casos torna um grande problema para médicos e gestores.
A KPC (Klebsiella pneumoniae Carbapenemase) é uma beta lactamase capaz de hidrolisar a totalidade dos antibióticos beta lactâmicos, inclusive os carbapenemas e substâncias inibidoras da beta lactamase. O termo KPC gera confusão e é pouco preciso, já que esta enzima pode ser detectada em outras enterobactérias, como as do gênero Pseudomonas. Recentemente o CDC cunhou a denominação CPE ( Enterobactérias Produtoras de Carbapenemase), sendo, portanto, este termo mais preciso.
Surtos de infecção por K.pneumoniae KPC são descritos em diversos países e com padrão endêmico em alguns como os EUA e o Brasil. A proporção de bactérias KPCs isoladas em hospitais também vem crescendo, em 2011 era de 12 %, em 2012 65 % e em 2013 57 %. A letalidade também é maior em comparação com pacientes infectados por bactérias sensíveis, o excesso de letalidade chega a 20 %. A letalidade chega a 48 % dos pacientes diagnosticados com infecção da corrente circulatória.
Para o tratamento destas bactérias restam poucas opções, entre elas a colistina, gentamicina e tigeciclina. Usadas isoladamente ou em diferentes associações. Nenhuma destas opções é ideal. A colistina e a gentamicina são nefrotóxicas e sua combinação pode levar a quadros de insuficiência renal. A tigeciclina tem ação errática, portanto gera pouca confiança na sua utilização em pacientes graves. Para piorar já se detectam bactérias resistentes à colistina e o lançamento de novas drogas não acompanha a rapidez da geração de resistência. Recentemente foi lançado nos EUA a ceftazidima-avibactam, uma combinação que se mostra ativa contra a KPC, no entanto há relatos de rápida criação de resistência.
O controle ainda se dá pela identificação precoce da colonização (geralmente ocorre em até 4 8 h após a internação) e a separação dos pacientes detectados colonizados. Talvez seja este um dos maires problemas relacionados à assistência hospitalar, a falta de opções minimamente ideais e a gravidade dos casos torna um grande problema para médicos e gestores.
sexta-feira, fevereiro 27, 2015
Poluição antimicrobiana
Afora os problemas de poluição das águas que normalmente são noticiados de forma bastante frequente, principalmente em decorrência do falta de saneamento e do correto manejo do dejetos oriundos do esgoto domiciliar e industrial em coleções hídricas das grandes cidades, agora depara-se-nos uma nova variável. Foi encaminhada para o Lancet desta semana, uma correspondência de professores de um departamento de saúde pública na China relatando um problema bastante preocupante e que tem o potencial de induzir enormemente a resistência bacteriana. Foram detectadas elevados níveis de antimicrobianos na água dispensada para uso humano em vários domicílios de uma cidade. A causa é conhecida, esgoto hospitalar, resíduos de industria farmacêuticas e o uso na agricultura e criação de animais. Esse fenômeno é conhecido e ocorre em todo o mundo, o que assusta é que nesta província da China as concentrações observadas alcançam valores estratosféricos (50 vezes acima do observado na França por exemplo). Não há a necessidade de reforçar que essa constatação é uma catástrofe do ponto de vista do uso terapêutico dos antimicrobianos. Seria uma pesquisa interessante de ser empreendida no Brasil.
Link para o artigo: aqui
sábado, dezembro 06, 2014
Uso dos antimicrobianos - problema de saúde pública?
Durante o meu curso de medicina eu sempre gostei de doenças infecciosas e especialmente de antimicrobianos, li muito sobre o assunto e resolvi fazer um trabalho no hospital em que estudava na época. Queria investigar se o uso do antimicrobianos por parte dos médicos era adequado em relação à indicação, dose e tempo de tratamento. Fui nas prescrições e me assustei, mais de 90 % das prescrições apresentavam algum problema, obviamente fui muito desestimulado pelos meus docentes quando quis apresentar o trabalho no congresso da faculdade. Isso foi em 1997.
Atualmente diversos trabalhos vem sendo publicados com o mesmo objetivo, avaliar o uso de antimicrobianos por médicos. Essa preocupação se deve ao fenômeno da resistência antimicrobiana que já nos coloca na era pós-antimicrobiana, em que infecções por bactérias resistentes já são intratáveis.
Começa-se a discutir a necessidade de se fornecer uma "licença " para médicos prescreverem antimicrobianos com duração de 2 anos e que pode ser perdida caso se cometa alguma heresia na prescrição dessas drogas.
Seguem os links com algumas dessas discussões:
1-Prescrição de antimicrobianos
2 - Licença para prescrever
quinta-feira, dezembro 04, 2014
Cresce o problema da resistência bacteriana
Vários meios de comunicação têm trazido para discussão acadêmica o problema crescente da resistência antimicrobiana. Atualmente há bactérias que se tornaram totalmente resistentes às classes antimicrobianas existentes no mercado, exemplos de bactérias resistentes como Mycobacterium tuberculosis, Neisseria gonorrhoeae, Enterococcus faecium, Staphylococcus aureus, Klebsiella pneumoniae, Acinetobacter baumannii, Pseudomonas aeruginosa, e espécies de enterobacter, salmonela e shigela são cada vez mais frequentes nos hospitais e ambulatórios de todo o Mundo.
O problema está fora de controle, cada vez mais são noticiados hospitais que apresentam surtos de bactérias resistentes. Apesar de todas as notícias ruins, haveria motivo para otimismo? No mundo importantes instituições como o CDC e a OMS têm priorizado ações para combate do problema, os laboratórios começam a direcionar as suas área de pesquisa para criação de novas opções terapêuticas, mesmo que de forma muito discreta, práticas de controle e vigilância do uso e de bactérias resistentes estão sendo estimuladas. Todavia, ainda há muito o que ser feito, principalmente na restrição do uso dos antimicrobianos em atividades não relacionadas à saúde, como agropecuária.
No Brasil, ações discretas por parte de agências reguladoras limitaram a venda irrestrita de antimicrobianos nos balcões das farmácias, isso ainda é pouco diante do problema que representa o surgimento de bactérias resistentes. Os médicos têm que receber formação para prescrição correta de antimicrobianos, além do aprimoramento do sistema de informação acerca das infecções microbianas, que praticamente é inexistente.
Diante de todos os problemas sanitários que o mundo vem enfrentando as últimas décadas é difícil vislumbrar um futuro promissor na área de antimicrobianos e o inicio da era pós-antimicrobiana é realidade cada vez mais concreta.
quarta-feira, novembro 03, 2010
Anvisa lança medidas para controle da KPC
A Anvisa lançou nas últimas semanas duas medidas para evitar a disseminação de bactérias resistentes, a primeira foi a obrigatoriedade do uso de álcool em gel nas unidades de saúde e a outra foi a obrigatoriedade de receita médica controlada para a venda de antimicrobianos.
O álcool gel é muito eficaz na eliminação da microbiota transitória das mãos dos profissionais, é inconteste a importância da correta higienização das mãos antes e depois da manipulação de pacientes. Essa prática já era adotada em quase todos as unidades de saúde, e é uma discussão algo antiga. Portanto a Anvisa chegou atrasada nesta questão, isso já era regulamentado pelo CDC desde 2002.
O uso de antimicrobianos sempre foi descontrolado na comunidade, quem nunca ouviu de um parente que para curar um resfriado forte era só usar amoxicilina? Ou procurar o balconista da farmácia e pedir uma "opinião"para tratar de uma determinada infecção? Isso é a realidade, pública e notória. Será que isso nunca incomodou a Anvisa? Fico me perguntando se a pressão de laboratórios farmacêuticos não foi determinante para esta negligência. Foram necessários o surgimento de uma epidemia e a morte de 18 pessoas para que a Anvisa determinasse que a venda de antimicrobianos fosse controlada. Essa medida também chega atrasada, muito atrasada. Sempre se soube que o uso desnecessário de antimicrobianos é o principal fator responsável pelo aparecimento de resistência antimicrobiana.
Temos que ter em mente também que somente o controle da venda não é suficiente para se retardar o aparecimento da resistência, por exemplo, no ambiente hospitalar o uso de antimicrobianos é totalmente controlado, somente médicos prescrevem. E por que será que justamente neste ambiente o fenômeno da resistência é mais prevalente? Essa é uma questão que merece ser discutida, quem se arvora?
O álcool gel é muito eficaz na eliminação da microbiota transitória das mãos dos profissionais, é inconteste a importância da correta higienização das mãos antes e depois da manipulação de pacientes. Essa prática já era adotada em quase todos as unidades de saúde, e é uma discussão algo antiga. Portanto a Anvisa chegou atrasada nesta questão, isso já era regulamentado pelo CDC desde 2002.
O uso de antimicrobianos sempre foi descontrolado na comunidade, quem nunca ouviu de um parente que para curar um resfriado forte era só usar amoxicilina? Ou procurar o balconista da farmácia e pedir uma "opinião"para tratar de uma determinada infecção? Isso é a realidade, pública e notória. Será que isso nunca incomodou a Anvisa? Fico me perguntando se a pressão de laboratórios farmacêuticos não foi determinante para esta negligência. Foram necessários o surgimento de uma epidemia e a morte de 18 pessoas para que a Anvisa determinasse que a venda de antimicrobianos fosse controlada. Essa medida também chega atrasada, muito atrasada. Sempre se soube que o uso desnecessário de antimicrobianos é o principal fator responsável pelo aparecimento de resistência antimicrobiana.
Temos que ter em mente também que somente o controle da venda não é suficiente para se retardar o aparecimento da resistência, por exemplo, no ambiente hospitalar o uso de antimicrobianos é totalmente controlado, somente médicos prescrevem. E por que será que justamente neste ambiente o fenômeno da resistência é mais prevalente? Essa é uma questão que merece ser discutida, quem se arvora?
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