Médico infeciologista. Mestre e Doutor em Medicina Tropical. Autor do Livro Lições de Epidemiologia
sábado, maio 14, 2016
Transmissão transfusional do Zika
Zika vírus é um flavivírus descoberto pela primeira vez em 1947. O risco de transmissão transfusional por outros vírus da mesma família é conhecido, principalmente para o dengue e West Nile virus. A transmissão transfusional pelo Zika foi documentada pela primeira vez no Brasil em 2015. Em áreas com transmissão do vírus deve-se estabelecer estratégias no sistema de sangue e hemoderivados de forma a manter os estoques disponíveis para as necessidades dos serviços de saúde.
Medidas recomendadas para se evitar a transmissão transfusional:
1)Em zonas não endêmicas deve-se recomendar que se evite a doação de sangue por período de 14 dias após retorno de área de transmissão e após 28 dias após resolução dos sintomas em pessoas com doenças documentada (mesmo para dengue). No caso de indivíduos que tiveram Zika é também recomendada a aplicação de medidas de inativação viral no sangue doado.
2)Implementação de testagem dos doadores com testes de biologia molecular, esta estratégia encarece o processamento dos hemoderivados e também necessita de equipamentos e técnicos para sua realização, no entanto mostrou-se eficaz durante a epidemia na Polinésia Francesa.
3)Inativação do vírus nos hemoderivados por meio de tratamento com Amatosalen e iluminação com raios UV. Esta estratégia mostrou-se eficaz contra o ZIKV e também contra outros arbovírus.
4)Gestantes só devem receber hemoderivados comprovadamente negativos para ZIKV.
Urbanização da Hantavirose, problema emergente.
Figura - Fonte CDC
A aquisição de hantavirose está relacionada quase exclusivamente à atividade rural, nos períodos de colheita, quando os silos das fazendas se encontram abastecidos e atraem os roedores que se alimentam principalmente dos grãos estocados. O homem adquire a infecção pela inalação de excretas de roedores infectados e o ambiente fechado e privado de iluminação natural favorece a concentração dos aerossóis contaminados, aumentando a possibilidade de aquisição da doença pelo homem. A doença afeta principalmente adultos jovens do sexo masculino. No entanto cada vez mais se detectam casos ligados à transmissão em zonas rurais como recentemente na Província de Azul, na Argentina (Morte de Criança por Hantavirose na Argentina). No Distrito Federal do Brasil também há relatos de casos em áreas periurbanas. Abaixo uma pequena introdução à Hantavirose; adicionalmente sugiro este artigo de revisão para aprofundamento do conhecimento acerca da doença.
A hantavirose é uma doença zoonótica, transmitida ao homem por meio da inalação de excretas de roedores silvestres, amplamente distribuída no Mundo. Na atualidade é considerada doença emergente e constitui importante problema de saúde pública. Nas Américas, a manifestação clínica predominante da doença é Síndrome Pulmonar e Cardiovascular por Hantavírus (SPCVH) .
A doença ganhou reconhecimento
pela medicina ocidental, pela primeira vez, durante a Guerra da Coréia, no
início da década de 50, e se propagou, no ano de 1993, para diversos países da
América. Os primeiros casos da
doença nesse continente foram diagnosticados no ano de 1993, em um surto na
região de Four Corners, no sudoeste
dos Estados Unidos. Atualmente, a virose se encontra distribuída globalmente
atingindo a Europa, a Ásia e as três Américas, sendo que, na América do Sul, os
principais países atingidos são Brasil, Argentina, Chile e Paraguai .
Existem duas
formas clínicas distintas de hantavirose: a Febre Hemorrágica com Síndrome Renal
(FHSR), que ocorre na Ásia e na Europa e possui evolução benigna, e a SPCVH,
forma que ocorre nas Américas e possui alta letalidade. Ambas são doenças
sistêmicas febris que podem acometer diversos órgãos. Na FHSR, o rim é o
principal envolvido, enquanto que na SPCVH os principais órgãos afetados são os
pulmões e o coração .
O agente
causador da hantavirose é o Hantavírus,
um vírus esférico e envelopado de RNA de fita simples, pertencente à família Bunyaviridae. Quatro membros desse
gênero causam FHSR e cerca de duas dezenas causam SPCVH. Cada um deles infecta
roedores específicos e a sua nomenclatura deriva da região onde foi
identificado pela primeira vez .
O Hantavírus é transmitido ao homem por
roedores, principalmente silvestres, de diversos gêneros e espécies, que
abrigam o vírus sem, no entanto, apresentarem a doença. No continente americano
os principais reservatórios são os roedores silvestres da ordem Rodentia, família Muridae e subfamília Sigmodontinae.
Já nos continentes asiático e europeu, os principais roedores envolvidos pertencem
à subfamílias Murinae e Arvicolinae, particularmente aos gêneros
Apodemus e Clethrionomys .
Os
roedores eliminam os vírus na urina, nas fezes e na saliva e a transmissão
ocorre por inalação de aerossóis contendo partículas virais, formados por
ressecamento dessas secreções. Outras formas de transmissão mais raras são:
mordedura de roedores, ingestão de alimentos contaminados com secreções desses
animais e contato com excretas contendo o vírus com posterior introdução em
mucosas. Também foi evidenciada infecção por transmissão interpessoal no Chile
e na Argentina.
quarta-feira, maio 11, 2016
Febre de Oropouche - Oropouche fever
Figura - Regiões das Américas com relato de ocorrência de casos humanos de Febre de Oropouche (fonte: CAD. SAÚDE COLET., RIO DE JANEIRO, 15 (3): 303 - 318, 2007)
A Febre de Oropouche é uma doença viral transmitida por artrópodes. O vírus causador pertence à família Bunyaviridae e o seu transmissor é uma pequena mosca (3 mm) hematófaga Culicoides paraensis (maruim). São insetos encontrados em regiões ribeirinhas e alagadas com abundância de matéria orgânica. Outros vetores também mostraram-se capazes de transmitir a doença, como os mosquitos do gênero Culex e Aedes.
A doença foi descrita pela primeira vez no Pará e depois encontrada em outras regiões do estado do Amazonas. Recentemente um surto foi relatado em cidades do Peru (link: Oropouche em Cusco). No Brasil também já causou surtos no Maranhão (Porto Franco) e em Tocantins (Tocantinópolis) no fim da década de 80. Estudos recentes indicam que o Oropouche pode ser a responsável por mais da metade dos casos de doença febril aguda nas Regiões Amazônicas (principalmente Pará, Norte de Tocantis, Maranhão e Amazonas). Epidemias em vilarejos (zonas urbanas) são frequentes e chamam pouca a atenção das autoridades sanitárias nacionais.
A doença caracteriza-se por período de incubação de 3 a 5 dias com evolução para febre, mialgia, cefaleia, artralgia e fotofobia intensa. A duração dos sintomas costuma ser em média de 3 dias com evolução geralmente benigna, no entanto foram descritos casos com meningite asséptica. O quadro clínico se aproxima muito do observado na dengue, portanto a maior parte dos diagnósticos pode ser erroneamente atribuído à dengue.
O diagnóstico se realiza nomeadamente por meio de exames sorológicos e não há tratamento específico e nem vacinas disponíveis. A grande questão é a potencial capacidade de disseminação deste vírus para regiões mais populosas mais ao sul do Brasil, agregando complexidade ao diagnóstico diferencial e causando mais morbidade à população. A possibilidade de transmissão por mosquitos do gênero Culex e Aedes fortalece a necessidade de vigilância mais estreita aos casos de doença febril aguda em todos os estados brasileiros e países vizinhos.
English Version:
Oropouche
fever is a viral disease transmitted by arthropods. The causative virus belongs
to the family Bunyaviridae, and its
transmitter is a small fly (3 mm) hematophagous Culicoides paraensis (maruím).
They are insects found in Riverside
regions and flooded with an abundance of
organic matter. Other vectors were also able to transmit the disease, such as
the mosquitoes of the genus Culex and Aedes.
The disease
was first described in Brazil in Pará state and later found in other regions of
the state of Amazonas. Recently an outbreak has been reported in Peruvian
cities (link: Oropouche in Cusco). In Brazil, it has also caused outbreaks in
Maranhão (Porto Franco) and Tocantins (Tocantinópolis) in the late 1980s.
Recent studies indicate that Oropouche may be responsible for more than half of
the cases of acute febrile disease in the
Amazonian Regions Pará, North of Tocantins,
Maranhão, and Amazonas). Epidemics in
villages (urban areas) are frequent and draw little attention from national
health authorities.
The disease
is characterized by an incubation period
of 3 to 5 days with evolution to fever, myalgia, headache, arthralgia and
intense photophobia. The duration of the symptoms usually is in an average
of 3 days with generally benign evolution, nevertheless have been described
cases with aseptic meningitis. The
clinical picture is close to that observed in dengue, so most diagnoses can be erroneously
attributed to this virus.
The diagnosis
is made namely through serological tests,
and there is no specific treatment or vaccines available. The major issue is
the potential spread of this virus to more populated regions in southern
Brazil, adding complexity to the differential diagnosis and causing more
morbidity to the population. The possibility of transmission by mosquitoes of
the genus Culex and Aedes strengthens the need for closer surveillance to cases
of acute febrile illness in all Brazilian states and neighboring countries.
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