Há uns 2 meses eu atendi uma paciente com 50 anos de idade que apresentava queixa de parasitas (vermes) que se alojaram na sua pele e que em alguns períodos a rompiam indo infestar outras regiões causando desconforto e prurido. Ela informava que já havia procurado outros médicos sem muito sucesso, mas estava em uso de tiabendazol tópico, que aplicava na pele constantemente. Durante o exame não havia evidência de lesões cutâneas e os exames de fezes eram todos negativos (vários). Pedi para a paciente procurar um psiquiatra e que se possível me trouxesse os vermes conservados em solução fisiológica ou formol. Ela não retornou até o momento.
Nesta semana lendo a CID me deparei com um artigo de revisão descrevendo três casos idênticos ao que eu atendi. Aprendi algumas coisas como o termo folie à deux (loucura compartilhada por dois) que é comum acontecer com filhos ou maridos de pacientes nesta situação, esta condição rara está definida como disordem psicótica compartilhada no DSM IV.
Quem quiser ler acesse esta ligação:
http://www.journals.uchicago.edu/doi/pdf/10.1086/523004
Médico infeciologista. Mestre e Doutor em Medicina Tropical. Autor do Livro Lições de Epidemiologia
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1 comentário:
Usando os termos corretamente os pacientes apresentaram alucinações táteis e visuais somado com o delírio. De acordo com o dicionário do site PsqiWeb (1), alucinações são manifestações sensoriais para estímulos externos inexistentes, ou seja, o paciente sente, enxerga e toca o, no artigo proposto, verme ou minhoca, numa tradução mais literal. Concomitante à alucinação os pacientes apresentaram delírios, definido por Jasper como
"...Delíriocom sendo um juízo patologicamente falseado da realidade e que apresenta três características: Uma convicção subjetivamente irremovível e uma crença absolutamente inabalável; Impenetrabilidade e incompreensibilidade psicológica para o indivíduo normal, bem como, impossibilidade de sujeitar-se às influências de correções quaisquer, seja através da experiência ou da argumentação lógica e; Impossibilidade de conteúdo (da realidade)." (1)
Tendo esses conceitos em mente, e a afirmação do artigo que apenas 40% realmente apresentam parasitose não associada com distúrbios neuropsiquiatricos, percebe-se-á um padrão no comportamento dos pacientes com essas caracteríticas. O paciente tem as alucinações/delírios como manifestação psiquiátricos podendo ou não se desenvoler em quadros psiquiátricos mais complexos. (2)
Como foi dito no artigo, não há relação com condição socioeconômica nem profissional para o surgimento desses sintomas, o autor sabiamente apresentou um caso dum aluno de Medicina. Mesmo com todo seu conhecimento médico e a comprovação de testes que ele mesmo conhecia, não foi capaz de sobrepor a "força" do seu delírio.
Somando fatos e atitudes, e as informações do artigo-relato de um caso em São Paulo, essa manifestação do paciente pode ser tanto uma esquizofrênia em início de evolução quanto uma psicose hipocondríaca monossintomática, no caso uma acarofobia. (3)
Nitidamente comentado no artigo proposto (2) a relação médico paciente deve ser revista, haja vista que, mesmo que o paciente não apresente nada, ele está doente, e como médico nosso dever tratar ou encaminha-lo para quem o faça. Abordar diretamente uma psicose é errado, o delírio do paciente não será "vencido" com apresentações de testes ou comprovações visuais, é necessário uma abordagem específica e cuidadosa, para que o paciente seja curado ou sua doença amenizada. (2)
Psiqweb. Disponível em . Acessado em 14/11/2010
Delusions of Parasitoses. Donabedian, Haig. Division of Infectious Diseases, Department of Internal Medicine, College of Medicine, The University of Toledo, Toledo, Ohio. 19 October 2007.
Delírio de parasitose (acarofobia): relato de caso em São Paulo (Brasil). Larsson, C. E. USP. Dezembro de 2000.
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