Figura - Distribuição do ZIKA no Mundo.
Todos esperávamos uma grande epidemia de CHIK no Brasil este ano, mas outra arbovirose está a se disseminar de forma rápida, nomeadamente no nordeste do Brasil. Trata-se da Febre do Zika, uma arbovirose transmitida pelo Aedes sp. e que é originária da África e da Ásia. Pesquisadores de uma Universidade da Bahia isolaram o vírus de casos de uma doença exantemática que se espalhou por Salvador e Região Metropolitana e que também vem a ser relatada em outros estados circunvizinhos. Acredita-se que o vírus tenha entrado no Brasil durante o mundial de futebol ocorrido em 2014.
Trata-se de um flavivírus que causa doença benigna caracterizada por inicio agudo de febre, exantema maculopapular (geralmente inicia-se na face e se dissemina pelo restante do corpo) e artralgia nomeadamente nas pequenas articulações do membro superior. Conjuntivite também é relatada. Os sinais e sintomas são leves e moderados de evolução auto limitada de cerca de 2 a 7 dias. O diagnóstico pode ser feito por meio de sorologia (IgM positiva - pode haver reação cruzada com outros flavivírus) e RT - PCR. Não há tratamento específico, sendo recomendados os analgésicos. Como no Brasil há possibilidade de dengue, evitar a aspirina e os anti-inflamatórios não esteroidais.
O diagnóstico diferencial é amplo considerando-se os agentes que circulam no país, inclusive a doença estava a ser confundida com a doença exantemática causada por parvovírus B19. Felizmente essa doença não se mostrou complicada, apesar de haver poucos casos envolvendo gestantes e recém-nascidos.
A prevenção reside nas velhas orientações de se evitar contato com mosquitos, crianças muito pequenas não podem usar repelente, portanto o cuidado com o domicilio é essencial. Ainda há que se aguardar o término das investigações epidemiológicas para poder ser afirmar que há de fato uma epidemia da doença no Brasil.
Médico infeciologista. Mestre e Doutor em Medicina Tropical. Autor do Livro Lições de Epidemiologia
quinta-feira, abril 30, 2015
segunda-feira, abril 06, 2015
Diarreia do Viajante
Em um mundo cada vez mais conectado e onde se pode atravessar todo o globo em menos de 24 h, as viagens vêm se tornando algo cada dia mais corriqueiro. Estima-se que em 2030 haverá cerca de 1 a 8 bilhões de turistas viajando pelo mundo anualmente. A diarreia do viajante é um dos maiores problemas que enfrentam os viajantes, cerca de 30 a 40 % dos que fazem uma viagem por qualquer motivo adquirem esta condição, que na maior parte das vezes é benigna.
Medidas de Prevenção:
1-Seleção da Alimentação - evitar alimentos crus e comida de rua, gelo, frutas com casca. As bebidas engarrafadas são mais seguras, de maneira geral os produtos industrializados.
2-Higiene das mãos - usar álcool em gel em sítios onde não haja dispositivos sanitários.
3-Ter conhecimento dos sintomas e estar preparado para intervir com a medicação prescrita na consulta de pré-viagem.
4-Tratamento da água -- falarei em um post específico.
5-Vacinação - também em post específico.
Em janeiro de 2015, o Jama publicou uma revisão acerca do assunto, o objetivo foi reunir as melhores evidências disponíveis sobre a etiologia, tratamento e medidas de prevenção. Eu fiz uma apresentação no Prezi, tentei resumir os pontos mais importantes apresentados no artigo. Quem tiver interesse pode aceder ao link abaixo:
Apresentação Prezi.
Abaixo o link para o sítio do artigo (free):
Artigo Jama Diarreia do Viajante.
sábado, abril 04, 2015
Aedes sp. um vetor a se adaptar: uma ameaça real para os países de clima temperado
A expansão dos mosquitos do gênero Aedes, transmissor de doenças febris entre elas a dengue, a Febre Amarela e o Chikungunya, tem sido a grande preocupação das autoridades sanitárias nos últimos anos. Vou comentar brevemente dois episódios recentes que demonstram o risco de expansão dessas doenças para territórios que o mosquito nunca existiu ou havia sido controlado.
Recentemente foi detectado uma epidemia de dengue na Ilha da Madeira, essa região é um território autônomo de Portugal com cerca de 260.000 habitantes, apresentando clima temperado mediterrâneo. Em 2005 foi encontrado o Aedes aegypti pela primeira vez em uma das ilhas do arquipélago. Em 2012 foram detectados os primeiros casos de dengue do tipo DEN 1. Foram um total de 2168 casos (entre prováveis e confirmados). Esse episódio gera muitas preocupações, apesar de Portugal continental não ter o Aedes aegypti em seu território, o Aedes albopictus infesta diversas regiões de clima temperado da Europa, e também por já ter havido epidemias de dengue anteriormente, sendo a última em 1928 na Grécia.
O primeiro caso de Chikungunya nas Américas ocorreu em Dezembro de 2013 nas Antilhas, desde então a doença se espalhou por diversos países do continente já alcançando a cifra de 1.300,000 casos. A grande novidade é a ocorrência de casos autóctones nos EUA, especificamente na Flórida, demonstrando a grande capacidade de adaptação do mosquito Aedes. A situação pode piorar com a reemergência de casos de dengue no Texas e a possibilidade de epidemias da doença em outros estados. Abaixo a distribuição de Aedes nos EUA de acordo com o CDC:
Para finalizar é bom lembrar que o CHIK e a dengue são doenças relativamente benignas, apresentando baixa letalidade. Todavia, uma doença que se encontra nas Américas há longa data e que tem o potencial de causar até 25 % de letalidade, a Febre Amarela, é também transmitida pelos mesmos vetores. E para quem nunca ouviu falar, Lisboa teve uma epidemia de FA em 1857 com 16.000 casos (10 % da população lisboeta na época) e 5.000 mortes. José saramago, em seu livro Memorial do Convento, relata:
"(...) está Lisboa atormentada de uma grande doença, morrem pessoas em todo as casas (...). Que doença é essa, dizem que foi trazida por uma nau do Brasil, (...) mas, sobre a doença, pelos sinais que dá, é vómito negro ou febre-amarela, e o nome importa pouco, o caso é que estão morrendo como tordos (...). "
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